Suplementos de magnésio: riscos da automedicação alertam médicos moçambicanos
O mercado de suplementos alimentares está em crescimento acelerado, mas especialistas alertam para os riscos da automedicação, especialmente com magnésio, após caso de jovem influenciadora hospitalizada por excesso da substância.
Crescimento do mercado de suplementos preocupa especialistas
O consumo de suplementos alimentares registou um crescimento superior a 11% no primeiro trimestre de 2025, impulsionado por promessas de ganho de energia, melhora do sono e prevenção de doenças. No entanto, este crescimento traz consigo riscos significativos quando não há acompanhamento médico adequado.
O caso da influenciadora brasileira Isabel Veloso, de 19 anos, internada em cuidados intensivos desde novembro por hipermagnesemia, ilustra os perigos da suplementação inadequada. A condição, caracterizada pelo excesso de magnésio no sangue, é rara mas pode provocar complicações graves.
Hipermagnesemia: quando o excesso se torna perigoso
O Dr. Sidney Tadashi Sasaki, nefrologista do Hospital Moriah, explica que a hipermagnesemia é incomum em pessoas saudáveis, mas pode ser grave em casos de ingestão excessiva ou em indivíduos com função renal reduzida.
"O magnésio é um mineral essencial para nervos, músculos e coração. Valores séricos normais ficam entre 1,7mg/dL e 2,3 mg/dL", esclarece o especialista. Níveis elevados podem causar:
- Náuseas e sonolência (casos leves)
- Fraqueza muscular e diminuição dos reflexos
- Queda da pressão arterial
- Alterações cardíacos graves
- Dificuldade respiratória e parada cardíaca (casos extremos)
Grupos de risco e prevenção
Pacientes com insuficiência renal, doenças cardíacas ou idade avançada apresentam maior risco de complicações. O corpo elimina magnésio principalmente através dos rins, pelo que qualquer compromisso da função renal pode levar ao acúmulo perigoso da substância.
"A suplementação deve ocorrer apenas quando há déficit comprovado de algum nutriente ou em casos específicos como dietas restritivas", adverte o Dr. Sasaki. "Fora desses cenários, o benefício tende a ser limitado."
Venda livre: falsa sensação de segurança
A disponibilidade de suplementos sem receita médica cria uma falsa sensação de segurança, segundo os especialistas. Esta situação pode mascarar doenças, favorecer intoxicações silenciosas e permitir que grupos vulneráveis se exponham a níveis perigosos.
O limite tolerável para suplementação é de 350 mg/dia de magnésio elementar. Doses superiores podem causar efeitos adversos gastrointestinais e, em excesso, risco de intoxicação.
Tratamento e recomendações
O tratamento da hipermagnesemia varia conforme a gravidade, desde a suspensão do suplemento e hidratação até cálcio intravenoso e hemodiálise em casos graves. Em situações refratárias ou com insuficiência renal significativa, a hemodiálise torna-se necessária para remoção eficaz do magnésio.
Para Moçambique, onde o acesso a cuidados médicos especializados pode ser limitado em algumas regiões, a prevenção através da educação e regulamentação adequada torna-se ainda mais crucial.
Orientações para uso seguro
Os especialistas recomendam que a suplementação seja indicada apenas em situações específicas:
- Deficiência comprovada por exames médicos
- Atividade física intensa (atletas profissionais)
- Condições clínicas específicas com orientação médica
- Dietas restritivas com carências documentadas
- Pós-operatório de cirurgias que afetem a absorção
"A maioria das pessoas consegue atingir a ingestão recomendada através da alimentação adequada", conclui o Dr. Sasaki, reforçando a importância da consulta médica antes de iniciar qualquer suplementação.