Sudão: Crise humanitária de 2025 exige resposta global urgente
O conflito no Sudão foi classificado pelo Comité Internacional de Resgate como a crise global mais negligenciada de 2025, ocupando o primeiro lugar na lista "As 10 principais crises que o mundo não pode ignorar em 2026".
Desde abril de 2023, a guerra entre o Exército sudanês e as Forças de Apoio Rápido transformou o país naquela que a ONU considera a maior crise humanitária e de deslocação do mundo, com a situação a agravar-se significativamente ao longo de 2025.
Impacto devastador nos civis
Philippe Dam, diretor de advocacy da Human Rights Watch (HRW), alerta que "ambas as partes no conflito e os seus aliados não só falharam em proteger os civis, como o ataque deliberado a civis está no centro da sua forma de fazer a guerra".
Os combates concentram-se agora em Kordofan, região estratégica que separa as áreas controladas pelo Exército, incluindo Cartum, dos territórios sob controlo das forças paramilitares em Darfur e no sul do país.
Dam denuncia que civis e trabalhadores humanitários estão a ser presos arbitrariamente, com as Forças Armadas do Sudão a cometerem "graves violações contra civis, nomeadamente através do bombardeamento de zonas civis densamente povoadas".
Números alarmantes
Segundo as Nações Unidas, cerca de 14 milhões de pessoas continuam deslocadas no Sudão e nos países vizinhos. As estimativas de mortos variam entre 40 mil e 250 mil pessoas.
A situação alimentar é crítica: quase metade da população, cerca de 21 milhões de pessoas, enfrenta insegurança alimentar aguda, segundo a Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar.
Resposta internacional insuficiente
Em dezembro, a União Europeia iniciou o transporte aéreo de 100 toneladas de ajuda humanitária para Darfur, numa ponte aérea de 3,5 milhões de euros que termina em janeiro.
Contudo, Jan Friedrich-Rust, diretor executivo da secção alemã da ONG Ação Contra a Fome, considera esta ajuda "apenas uma gota no oceano", alertando que "até agora apenas 35% dos recursos financeiros necessários para a ajuda humanitária foram disponibilizados".
O encerramento da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) representou "um ponto de rutura", com a perda do maior doador, enquanto os países europeus, incluindo a Alemanha, reduziram drasticamente os seus financiamentos.
Necessidade de liderança global
Philippe Dam critica a resposta da União Europeia, considerando-a "extremamente dececionante" e apontando "uma clara falta de liderança na resposta da UE".
Embora reconheça algumas sanções positivas, Dam defende que "é absolutamente essencial que a UE intensifique o seu envolvimento e sancione a liderança de topo dos grupos armados responsáveis por violações graves".
A crise do Sudão representa um teste crucial para a capacidade da comunidade internacional responder eficazmente às crises humanitárias do século XXI, exigindo uma coordenação global renovada e investimentos substanciais em ajuda humanitária.