Drones e inteligência artificial transformam conservação de araras em ambiente urbano
Um projeto inovador de conservação em Campo Grande, Brasil, demonstra como a tecnologia pode revolucionar a preservação da biodiversidade urbana. A iniciativa, que combina drones, inteligência artificial e ciência cidadã, está a transformar a forma como as cidades podem integrar fauna selvagem no seu desenvolvimento.
Tecnologia a serviço da natureza
O projeto das araras-canindé em Campo Grande representa um exemplo pioneiro de como a inovação tecnológica pode ser aplicada à conservação ambiental. Com o apoio da empresa ADM e a coordenação do Instituto Arara Azul, o monitoramento da espécie ganhou uma dimensão completamente nova.
"Com o uso dessas tecnologias, os monitoramentos passaram a ser mais eficazes e otimizados", explica Eliza Mense, diretora-executiva do Instituto Arara Azul. "Antes monitorizávamos entre 15 e 25 ninhos por dia e hoje esse número chega a mais de 50 ninhos verificados num único dia."
Resultados extraordinários
A última temporada reprodutiva registou números impressionantes: uma taxa de ocupação de ninhos de 73% e o nascimento de 92 filhotes. Estes resultados demonstram o potencial da tecnologia aplicada à conservação urbana.
Bruno Lucas de Andrea, assistente de pesquisa do projeto, destaca a importância dos drones: "Em ninhos muito altos, onde a nossa escada não alcança, o drone tornou-se uma ferramenta imprescindível para o monitoramento das araras-canindé."
Inteligência artificial na identificação
Uma das inovações mais impressionantes do projeto é o uso de inteligência artificial para identificação individual das araras. O sistema analisa o padrão facial formado pelas fileiras de penas, característica única de cada indivíduo.
"Utilizando técnicas de machine learning e deep learning, as redes neurais profundas são treinadas para reconhecer variações subtis no formato, disposição e espaçamento das penas", explica Andrea.
Impacto económico e social
O sucesso do projeto vai além da conservação. A iniciativa está a atrair turismo sustentável e a melhorar a qualidade de vida local. "Vários estudos comprovam que a qualidade de vida das pessoas em contacto com a natureza melhora, promovendo benefícios para a saúde física e mental", refere Andrea.
A cidade tornou-se um símbolo de conservação, atraindo turistas e observadores de aves, gerando orgulho nas comunidades locais e criando novas oportunidades económicas.
Ciência cidadã e educação
O projeto envolveu diretamente 500 participantes em ações educativas e planeia integrar 150 voluntários na próxima fase. Esta abordagem de ciência cidadã permite que escolas, professores e moradores contribuam com informações sobre ninhos e comportamento das aves.
"A educação ambiental é uma importante premissa para a conservação", sublinha Andrea.
Modelo para o futuro
Paloma Carrilli, gerente de Sustentabilidade da ADM para a América Latina, enfatiza: "O projeto tem sido fundamental para demonstrar que é possível integrar a fauna silvestre à vida urbana e o quanto isso traz benefícios para ambos."
Esta iniciativa representa um modelo replicável para outras cidades que procuram equilibrar desenvolvimento urbano com conservação da biodiversidade, demonstrando que a tecnologia e a inovação podem ser poderosos aliados na construção de cidades mais sustentáveis e habitáveis.