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Nigéria e IA: A Luta das Línguas Locais numa Corrida Global

A Nigéria enfrenta o desafio de preservar suas línguas locais no universo da IA, onde o inglês domina. Com mais de 500 línguas e iniciativas inovadoras, o país busca seu espaço na revolução digital global.

ParCelina Mucavele
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Equipe de pesquisa Nigerian Next Voices documentando línguas locais

Pesquisadores nigerianos trabalham na digitalização de línguas locais para IA

A Riqueza Linguística da Nigéria no Contexto Digital

Com mais de 200 milhões de habitantes e mais de 500 línguas, a Nigéria representa um gigante em diversidade cultural. No entanto, no universo digital, línguas como Yoruba, Hausa e Igbo têm presença mínima. Nos conjuntos de dados que alimentam a IA, o inglês ainda domina de forma absoluta.

Para mudar este cenário, pesquisadores nigerianos uniram-se à iniciativa African Next Voices. O objetivo é ambicioso: documentar milhares de horas de conversações em línguas locais. Em apenas dois anos, já foram coletadas mais de 9.000 horas, principalmente em Hausa e Yoruba - um passo simbólico na direção do reconhecimento digital.

Aplicações Práticas em Desenvolvimento

As implicações para a Nigéria são tanto sociais quanto económicas. A ausência de serviços digitais em línguas locais exclui milhões de cidadãos, especialmente em áreas rurais, onde não falar inglês significa ficar à margem de serviços bancários, informações médicas e apoio governamental.

Startups inovadoras como a Lelapa AI, com atuação na Nigéria, desenvolvem ferramentas que permitem que bancos e empresas de telecomunicações se comuniquem em Hausa ou Yoruba. É um avanço significativo na adaptação da tecnologia às realidades locais.

O Desafio Estrutural e o Caminho à Frente

A realidade é desafiadora: apesar de seu poder demográfico e cultural, a Nigéria ainda é espectadora numa corrida liderada por outros. Enquanto EUA, China e Índia investem bilhões em IA, a Nigéria depende de financiamento externo, como a doação de $2,2 milhões da Fundação Gates para seus primeiros conjuntos de dados de voz.

Cada hora de fala em Yoruba ou Hausa gravada representa um ato de resistência contra o apagamento digital. A questão fundamental é: a Nigéria continuará sendo apenas consumidora de tecnologias importadas, ou ousará tornar-se criadora - traçando seu próprio caminho na inteligência artificial, em suas próprias línguas?

Celina Mucavele

Economista e editorialista moçambicana, especialista em políticas públicas e reformas econômicas na África Austral.